sexta-feira, 18 de abril de 2025
Capítulo 16 — O Círculo de Vozes
Capítulo 16 —
---Elisa, com sua presença delicada e intensa, deixou mais do que uma mensagem — deixou um destino...
Antes de partirem, Elisa os chamou ao entardecer e entregou um papel dobrado. Nele, havia um desenho simples: árvores, uma trilha, e no centro um círculo com marcas ao redor.
— Vocês precisam ir até aqui antes que a lua fique cheia de novo — ela disse. — É onde as vozes falam. Não com palavras. Mas com o que está entre elas.
— Que tipo de vozes? — Clara perguntou.
Elisa apenas sorriu.
— As que vocês carregam e ainda não ouviram.
Seguindo o mapa, Clara e Miguel entraram numa floresta densa dois dias depois. Era um daqueles lugares que o GPS não alcança, onde o tempo parece respirar por conta própria. A trilha era estreita, mas cada passo parecia certo. As árvores, altas e silenciosas, criavam um teto natural que filtrava a luz em tons dourados e esmeralda.
Depois de horas, chegaram ao local marcado. No centro da clareira, doze pedras dispostas em círculo, como sentinelas antigas. Em cada pedra, um símbolo gravado — alguns pareciam letras esquecidas, outros lembravam constelações.
Ao entrarem no círculo, um vento suave percorreu seus corpos. E então… o som. Não um som comum. Era como se o vento soprasse memórias. Fragmentos de vozes, risos distantes, orações em línguas esquecidas.
Clara fechou os olhos.
Ela ouviu sua própria voz de outra vida, chamando por Miguel num deserto. Ouviu promessas sussurradas sob estrelas que já nem existiam.
Miguel ouviu sua risada em um templo à beira-mar, Clara dançando sob uma chuva morna. Ouviu um choro antigo, de quando a perdeu numa vida breve demais.
As pedras vibravam, mas nada se movia. Era como se o lugar respirasse a verdade.
No centro do círculo, havia uma pedra diferente. Redonda, lisa. Miguel tocou e sussurrou:
— Quem somos?
Na superfície, surgiu um brilho fraco… e então uma palavra, em língua desconhecida, mas compreendida no coração:
“Guardadores.”
Eles se entreolharam. Aquilo era mais do que um nome. Era uma responsabilidade.
— Guardadores de quê? — Clara perguntou.
A pedra respondeu com imagens: pessoas se reconhecendo, abraçando-se após anos de busca; lugares esquecidos sendo reativados por presença e memória; amores renascendo não apenas entre casais, mas entre almas de mesma frequência.
Eles entenderam: sua missão era lembrar o mundo do que é real. Do que vibra além do medo. De que tudo está ligado. E que o amor não é um destino — é um portal.
Antes de partirem, Clara olhou para o céu. A lua já começava a crescer.
— Temos pouco tempo, Miguel. O ciclo está acelerando.
— E parece que nós também.
---Continua---
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