Às vezes o vento da vida sopra alguém
para longe, mas o amor teimoso e persistente como é, não desiste e
volta. E volta como brisa, trazendo nas mãos a leveza e a suavidade que
precisamos, para atenuar a densidade do tempo de ausência.
Eu não sei me despedir, sem deixar parte de mim, dentro da bagagem de quem vai embora:
Eu só queria mais tempo. E pedir que a
chuva que desliza pela janela lá fora, levasse embora todos os medos
tolos que eu carrego aqui dentro. Que a ousadia fosse mais veloz que eu e
paralisasse a continuidade de todos esses receios que me sustentam. Eu
queria mais coragem para caminhar sem nenhum pingo de desconfiança até
você, com a garantia de que eu não desistiria na primeira metade do
caminho. Eu queria mais tempo até que o tempo se desfizesse da sua
inexorabilidade, e generosamente me devolvesse aquelas horas perdidas
nos ponteiros do meu relógio de pulso, só para que eu pudesse voltar e
te resgatar daquele lugar apertado, onde guardo os meus amores
fracassados. Eu queria mais tempo… Para impedir que o tempo se
misturasse às suas incertezas e não corresse junto com as suas
desistências. E que o nosso tempo não fosse só uma saudade empoeirada e
esquecida, mas que eu pudesse me apoiar em alguma esperança, ainda que
fosse só isso: esperança. Eu queria mais tempo para que você me
descobrisse inteira, como um texto decorado – desses que a gente
pronuncia ininterruptamente, quando reconhece nas entrelinhas os seus
versos mais bonitos. Eu queria mais tempo, só para que a gente pudesse
se envolver de novo naquele abraço prolongado, que sempre salvou os
nossos dias de nós mesmos. Que a gente pudesse, de novo, enfiar o pé na jaca e rir dos nossos tropeços até a barriga doer por não suportar a intensidade da nossa felicidade.
Eu só queria mais tempo. E poder viajar
sem data e hora, pelo céu da sua boca. Tempo para redescobrir os seus
segredos mais inconfessáveis. Para adormecer o seu medo de sofrer por
amor e desabotoar todas as armaduras que guardam as suas resistências.
Tempo para encaixar de novo o seu coração no meu e me reencontrar nos
seus braços. Eu queria mais tempo para mergulhar na transparência dos
seus olhos lindos, que inquietos procuram decifrar nos meus movimentos
ansiosos e desordenados, a imensidão dos meus múltiplos pensamentos. Eu
queria mais tempo para despertar aquela antiga vontade de me ver colada
nas suas retinas, para que nenhum detalhe que me contorna se perca na
inexatidão dos nossos dias. Eu queria mais tempo. Tempo suficiente para
reorganizar os nos nossos afetos e compreender a vastidão desse inexplicável
que até hoje nos cerca. Eu queria mais tempo, um tempo além do tempo
que foi; além do tempo que temos… E que você – assim como eu –
desistisse de procurar lá fora, o que sempre encontrou aqui dentro.
Meu Universo Particular. (Erica Gaião)
By San
eu tb queria que a chuva levasse embora meus medos bobos
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