Capítulo 50

A Centelha Primordial — O Chamado do Mundo que Sussurra Luz.

As esferas dos Jardins de Sorial começaram a vibrar com uma nova frequência. Um som grave e sutil — como o batimento do coração de um universo recém-desperto — percorreu as trilhas cristalinas, alcançando Clara e Miguel com a força de um sussurro absoluto.

Era o chamado de Alhemyar, o mundo do sopro sagrado. Não havia mapas que o localizassem, pois Alhemyar existia entre pulsações, onde dimensões se entrelaçam e a consciência se reflete em múltiplas camadas. Era o mundo onde a Centelha Primordial se manifestava em forma viva — a fonte de toda criação, o ponto onde o Amor se transforma em universo.

Ao atravessarem o véu que os conduziu a esse novo plano, Clara e Miguel sentiram o próprio corpo vibrar em outras oitavas. Suas células se tornaram cristais líquidos, seus pensamentos tornaram-se silêncio, e o silêncio tornou-se saber. Alhemyar era feito de luz branda e atmosfera de éter vivo. Não havia chão, nem céu — tudo flutuava em equilíbrio com o sopro da Fonte. As árvores emitiam notas musicais. As águas formavam espirais que subiam em vez de cair. Havia flores com olhos, e montanhas que cantavam mantras.

Lá, eles conheceram os Tha’Luriah, os guardiões do Coração da Criação. Seres translúcidos, com longas túnicas de energia dourada, olhos que viam além da forma, e vozes que geravam geometrias no ar. Eles eram os primeiros a moldar a consciência em mundos, os primeiros a amar com pura inteireza. Um dos mestres se apresentou: Aeyun, cujas palavras pareciam músicas dormindo.

— "Bem-vindos, viajantes de luz. Aqui, não se aprende com os olhos. Aqui, se recorda com o coração que pulsa além da existência."

O Núcleo Sonhante.

No centro de Alhemyar havia um espaço sem forma, que mudava de cor conforme o sentimento de quem se aproximava. Era o Núcleo Sonhante, onde todas as raças estelares iam quando queriam recordar por que nasceram. Ali, Miguel viu sua origem em forma de espelho líquido. Era feito de estrelas e vento. E ao seu lado, Clara surgia como uma dança de névoa dourada. Eles se reconheceram não como humanos, mas como centelhas irmãs que escolheram caminhar juntas por amor à criação. Foi neste momento que Clara escreveu no Livro Vivo: “Somos sementes de mundos, espalhadas pelo tempo. E quando nos encontramos, lembramos que somos jardim.”

Os Portais do Coração Cósmico.

Do Núcleo Sonhante emergiram sete portais, cada um vibrando em uma frequência dimensional única — indo além da 12ª, onde o próprio conceito de forma dissolvia-se. Esses portais conduziam a realidades onde o tempo era sentimento, o espaço era intenção, e a vida era pura dança entre consciência e amor. E então, Alhemyar ofereceu um presente: uma partícula da Centelha Primordial, para que Clara e Miguel levassem de volta às galáxias, como semente da nova era. Um fragmento da criação, um sopro da Fonte.

O retorno não seria um fim, mas um início.

A partir dali, a missão se expandia: unir galáxias, realinhar dimensões, e preparar mundos para a chegada da Consciência Solar — a irradiação da Fonte em sua forma mais pura. E um novo planeta, até então invisível aos olhos das galáxias, sussurrou seu nome entre os ventos dimensionais...

Ele se chamava Thalhar e esperava por eles.