terça-feira, 3 de junho de 2025

Capítulo 55

Ormuhr — A Constelação Esquecida e o Coração Silencioso do Universo.


O portal-lótus não era apenas uma passagem, era um ser. Ao se abrirem suas pétalas de luz translúcida, Miguel e Clara sentiram o tempo curvar-se, como se o tecido do universo os carregasse em um suspiro. Foram envolvidos por uma espiral de silêncios e símbolos, onde não havia som — apenas vibração pura. Quando abriram os olhos novamente, estavam de pé sobre uma ponte de energia cintilante, suspensa no meio do nada e do tudo. Ao fundo, surgia Ormuhr. Uma constelação de planetas flutuantes interligados por filamentos dourados que pareciam respirações. As estrelas ali não piscavam, cantavam em intervalos geométricos. Cada planeta era uma nota. Cada órbita, uma dança sagrada.

O Primeiro Mundo: Thámeer.

Um planeta coberto por oceanos que não eram feitos de água, mas de memória líquida. Seres com formas serpentinas e olhos verticais nadavam lentamente, emanando sabedoria. Eles se comunicavam por ondas de sentimento, não por palavras. Clara foi guiada a mergulhar. Não precisou respirar. O oceano a envolveu com ternura, mostrando-lhe cenas de outras existências. Viu-se em mundos que não lembrava, com rostos que amava sem saber por quê. Miguel a observava da superfície, sendo guiado por um ser andrógino de pelagem translúcida e aura violeta. O ser o levou até uma plataforma onde milhares de discos de energia giravam lentamente.

“Essas são as missões esquecidas. Cada ser que desperta em Ormuhr recupera uma.”

Miguel tocou um dos discos. Sentiu um calor sutil. Era uma missão ligada à cura dos mundos que haviam perdido sua música interior.

O Segundo Mundo: Nariel.

Este planeta era feito de cristais ocos que vibravam em tons específicos. Ali, os pensamentos ganhavam forma. Qualquer intenção pura se transformava em realidade etérea. Clara e Miguel foram levados a um templo feito de névoa e som, onde os mestres de Nariel ensinavam que toda cocriação começa no coração, mas só se manifesta quando atravessa o anel da verdade interna.

Eles foram instruídos nas artes de arquitetar luz, aprendendo a construir campos vibracionais para futuras civilizações.
O amor entre eles era agora sua linguagem secreta. E com ela, moldaram uma flor suspensa no ar — símbolo do que co-criariam nos mundos por vir.

O Guardião de Ormuhr.

Na última órbita da constelação, havia um planeta que não tinha forma. Seu nome não podia ser pronunciado — só sentido. Ali, em uma câmara feita de silêncio absoluto, surgiu o Guardião. Um ser de doze faces, cada uma representando uma dimensão. Seu corpo era feito de luz orgânica e a cada movimento, revelava um novo pedaço da criação.

“A Terra está pronta para voltar a ser ponte entre os mundos. Mas ainda resta um fragmento. Uma lembrança final, que abrirá o caminho para a travessia dos demais.”

O Guardião tocou os corações de Clara e Miguel. E nesse instante, os dois lembraram…

Lembraram de Elarion, um planeta perdido entre os véus do tempo, cujos povos guardam os ensinamentos das raízes universais do amor e do som primordial. Lá estaria o último tom necessário para completar a Sinfonia da Nova Terra. E assim, o céu de Ormuhr começou a se abrir para além dele mesmo. Os prismas giravam. Os planetas cantavam. E uma nova jornada, ainda mais profunda, se anunciava.


2 comentários:

  1. Este capítulo é uma joia delicada — o portal-lótus, o oceano de memórias, os cristais, a flor suspensa, o guardião — são metáfora de cura, reconexão e criação que transcende... Ele resume a jornada espiritual de Clara e Miguel: olhar para dentro para transformar fora, com sensibilidade e profundidade poética... Esse é o verdadeiro amor! Estou certo na avaliação?

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