O Portal Verde: O Útero da Terra
— O próximo portal está na mata — ela disse. — Mas não numa floresta qualquer. É uma terra-guardião, onde o feminino ancestral pulsa forte. Vamos ao Vale de Luz Serena.
A viagem até lá foi acompanhada de sinais: animais os observavam com olhos atentos, folhas desenhavam espirais com o vento, e em uma tarde, Miguel jurou ver pequenos olhos brilhando entre as pedras — rápidos demais para serem humanos.
— Eles já sabem que estamos vindo — ele murmurou.
Ao chegarem, foram recebidos por um casal que guardava o santuário da mata. Eles não sabiam quem eram Clara e Miguel, mas ao olhá-los… sorriram.
— Vocês sentiram o chamado, né?
— Ele nos atravessou — Clara respondeu.
Foram guiados por uma trilha de folhas douradas até um claro circular, cercado por árvores ancestrais que pareciam sussurrar palavras antigas. O ar ali era outro — não se respirava, se absorvia.
— Este é o útero da Terra — disse a guardiã da floresta. — Aqui nascem sonhos, almas… e portais.
Na noite do círculo, a mata inteira parecia estar em vigília. Clara e Miguel se sentaram ao centro, com flores, sementes e cristais verdes ao redor. Ao iniciar o canto, não estavam sozinhos.
Pequenos seres começaram a surgir entre as sombras das raízes: gnomos, fadas, ondinas, salamandras. Formas etéreas, mas reais. Brilhavam com tons naturais — verdes, azuis, dourados. E logo, um grupo de seres multidimensionais apareceu ao fundo do claro, como se descessem por uma escada invisível de luz líquida.
Um deles se aproximou de Clara.
— O feminino planetário foi ferido. Aqui, ele será reativado.
Ela entendeu. A terceira âncora era a cura do sagrado feminino em todos os planos — o feminino negado, distorcido, silenciado.
Ela viu imagens: mulheres queimadas, sacerdotisas esquecidas, mães que pariram em silêncio e medo. Sentiu tudo — e deixou tudo vir.
As fadas dançavam ao redor dela. Os gnomos batiam pequenos bastões no chão. As árvores soltavam gotas de orvalho que brilhavam como estrelas.
Miguel, em silêncio, segurava o espaço. Ele era o masculino presente, não dominante — mas devotado. Era o testemunho da cura.
Então, Clara cantou.
Não era uma canção aprendida. Era o canto do ventre da Terra, que saía de sua alma como um rio antigo. Voz de avó, de filha, de amante, de luz.
O claro se iluminou de verde-esmeralda.
E no centro do círculo, uma flor de energia se abriu — um útero luminoso que pulsava com vida.
O ser multidimensional falou:
— Este é o portal da criação. Quem ativa este, ativa a lembrança de que somos sementes da Fonte.
Entregaram a Clara um colar com uma pedra viva: uma esmeralda com um núcleo dourado.
— É o código da vida — disse o ser. — E você agora carrega o cântico das mães originais.
Na manhã seguinte, tudo estava diferente. Clara sentia as plantas falarem com ela. Miguel via as fadas deslizando no orvalho. Os dois sabiam que, depois dali, nunca mais estariam sozinhos entre os mundos.
Ela escreveu no Livro Vivo:
“O feminino não é gênero. É a sabedoria de gerar, nutrir e transmutar.”
“A floresta não guarda segredos. Ela guarda memórias.”
Miguel a abraçou ao pé de uma árvore que parecia respirar com eles.
— Três portais. E agora, a ponte começa a se formar.
Clara sorriu, olhando o céu entre as folhas:
— E cada passo agora será mais leve… porque não andamos mais apenas por nós.
---Continua---
"E você agora carrega o cântico das mães originais."
ResponderExcluirLindo