Miguel ouviu o som de um sino — mas não havia sino. Clara viu relâmpagos em um céu limpo.
Ambos, na mesma noite, disseram:
— É a montanha. A próxima chave está lá.
A subida não foi física apenas. Era como se, a cada passo, atravessassem camadas de realidade. O ar rarefeito, os pensamentos mais lentos, e o coração… mais profundo.
Chegaram ao topo no fim do terceiro dia. E ali, havia uma pedra imensa, cravada no solo como um olho da Terra. Quando Clara tocou, o tempo se desfez.
Ela estava em outra era.
Viu a si mesma como um guardião do tempo, com vestes azuis e cabelos prateados. Ao seu lado, Miguel — com um manto dourado, segurando um bastão de luz. Estavam em um círculo de pedras semelhante ao que agora pisavam.
E ouviram a voz:
— Bem-vindos ao Portal dos Guardiões. Aqui, o tempo não é linha — é espiral.
A paisagem mudou. Eles estavam no mesmo lugar… mas em todas as épocas ao mesmo tempo. Crianças correndo, anciãos sussurrando, civilizações nascendo e caindo — tudo se sobrepunha em camadas de luz translúcida.
— Este é o ponto onde os tempos se encontram — disse um dos guardiões, com olhos brilhando como âmbar. — E vocês, que carregam os portais vivos, agora devem lembrar: o que fazem ecoa para trás e para frente.
Miguel se aproximou do círculo de pedras.
— Então o quarto portal… nos conecta com nossa linhagem atemporal?
— Exatamente — respondeu o guardião. — Vocês são sementes de várias eras. E ao ativarem este ponto, devolvem à Terra a sabedoria do tempo consciente.
Clara começou a entoar um som gutural, que não vinha da garganta — vinha do útero, do osso, da memória estelar. Era um chamado que ressoava entre os planos.
O céu escureceu por um instante. Relâmpagos silenciosos riscaram o horizonte. E um relógio de luz se desenhou no céu — em espiral. As pedras ao redor vibraram.
Miguel ergueu os braços, e do bastão invisível que ele "lembrava" como seu, saiu uma luz que conectou cada pedra à outra, formando uma mandala pulsante.
E então, viram:
o tempo não era prisão. Era instrumento.
E eles… estavam prontos para tocar sua canção.
Um novo ser multidimensional apareceu. Mais alto, com olhos que mudavam de cor a cada palavra.
— Vocês agora acessam a teia atemporal. Estão prontos para transitar entre linhas de realidade.
Mas lembrem-se: cada passo é uma assinatura.
E quem caminha com consciência, molda o amanhã.
O ser entregou uma ampulheta feita de luz líquida, com areia que caía… para cima.
— Esta é a chave da espiral. Guardem com presença.
Quando o vórtice se encerrou, Clara escreveu no Livro Vivo:
“O tempo não passa. Ele dança.”
“E quando dançamos com ele, lembramos quem já fomos… e escolhemos quem seremos.”
Na descida da montanha, os dois caminhavam em silêncio. Mas sabiam:
— Depois do tempo, vem o som — disse Miguel.
— E o som é a quinta chave — completou Clara.
E assim… o próximo chamado começava a vibrar.
---Continua---
"A paisagem mudou. Eles estavam no mesmo lugar… mas em todas as épocas ao mesmo tempo." "E quem caminha com consciência, molda o amanhã."
ResponderExcluirRealmente é incrível a narrativa fantástica, e os eventos espirituais que funcionam como amálgama entre mundos, entre realidades das mais densas as mais sutis...