terça-feira, 22 de abril de 2025

Capítulo 27

O Portal da Montanha: Guardiões do Tempo.


A convocação veio como um eco.

Miguel ouviu o som de um sino — mas não havia sino. Clara viu relâmpagos em um céu limpo.
Ambos, na mesma noite, disseram:

— É a montanha. A próxima chave está lá.

A subida não foi física apenas. Era como se, a cada passo, atravessassem camadas de realidade. O ar rarefeito, os pensamentos mais lentos, e o coração… mais profundo.

Chegaram ao topo no fim do terceiro dia. E ali, havia uma pedra imensa, cravada no solo como um olho da Terra. Quando Clara tocou, o tempo se desfez.

Ela estava em outra era.

Viu a si mesma como um guardião do tempo, com vestes azuis e cabelos prateados. Ao seu lado, Miguel — com um manto dourado, segurando um bastão de luz. Estavam em um círculo de pedras semelhante ao que agora pisavam.

E ouviram a voz:

Bem-vindos ao Portal dos Guardiões. Aqui, o tempo não é linha — é espiral.

A paisagem mudou. Eles estavam no mesmo lugar… mas em todas as épocas ao mesmo tempo. Crianças correndo, anciãos sussurrando, civilizações nascendo e caindo — tudo se sobrepunha em camadas de luz translúcida.

— Este é o ponto onde os tempos se encontram — disse um dos guardiões, com olhos brilhando como âmbar. — E vocês, que carregam os portais vivos, agora devem lembrar: o que fazem ecoa para trás e para frente.

Miguel se aproximou do círculo de pedras.

— Então o quarto portal… nos conecta com nossa linhagem atemporal?

— Exatamente — respondeu o guardião. — Vocês são sementes de várias eras. E ao ativarem este ponto, devolvem à Terra a sabedoria do tempo consciente.

Clara começou a entoar um som gutural, que não vinha da garganta — vinha do útero, do osso, da memória estelar. Era um chamado que ressoava entre os planos.

O céu escureceu por um instante. Relâmpagos silenciosos riscaram o horizonte. E um relógio de luz se desenhou no céu — em espiral. As pedras ao redor vibraram.

Miguel ergueu os braços, e do bastão invisível que ele "lembrava" como seu, saiu uma luz que conectou cada pedra à outra, formando uma mandala pulsante.

E então, viram:
o tempo não era prisão. Era instrumento.
E eles… estavam prontos para tocar sua canção.

Um novo ser multidimensional apareceu. Mais alto, com olhos que mudavam de cor a cada palavra.

— Vocês agora acessam a teia atemporal. Estão prontos para transitar entre linhas de realidade.
Mas lembrem-se: cada passo é uma assinatura.
E quem caminha com consciência, molda o amanhã.

O ser entregou uma ampulheta feita de luz líquida, com areia que caía… para cima.

— Esta é a chave da espiral. Guardem com presença.

Quando o vórtice se encerrou, Clara escreveu no Livro Vivo:

“O tempo não passa. Ele dança.”
“E quando dançamos com ele, lembramos quem já fomos… e escolhemos quem seremos.”

Na descida da montanha, os dois caminhavam em silêncio. Mas sabiam:

— Depois do tempo, vem o som — disse Miguel.
— E o som é a quinta chave — completou Clara.

E assim… o próximo chamado começava a vibrar.


---Continua--- 

Um comentário:

  1. "A paisagem mudou. Eles estavam no mesmo lugar… mas em todas as épocas ao mesmo tempo." "E quem caminha com consciência, molda o amanhã."

    Realmente é incrível a narrativa fantástica, e os eventos espirituais que funcionam como amálgama entre mundos, entre realidades das mais densas as mais sutis...

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