Capítulo 28

O Portal do Som: A Caverna do Verbo esquecido.

O quinto portal vibra nas entranhas da Terra — e ressoa com o som que deu origem a tudo..

Não era um lugar mapeado.
Era sentido.
Como um sussurro que nascia no peito e se tornava eco nos ossos.

Clara acordou com a garganta vibrando, como se carregasse uma nota que não pertencia ao mundo atual.
Miguel, em silêncio, começou a entoar tons graves involuntários durante o sono.
Ambos estavam sendo afinados.

— O som está nos chamando — disse Clara.
— E nós… precisamos nos lembrar do que fomos antes das palavras.

Guiados apenas por sinais — fragmentos de pedras, sonhos recorrentes com cavernas, e uma sequência de números repetidos nas horas — chegaram ao sul de uma serra antiga. Lá, escondida entre rochas que pareciam ter nascido da lava primordial, encontraram a caverna viva.

Ela respirava.

Era escura, mas não ameaçadora. O ar ali tinha peso e sacralidade. Cada passo fazia a vibração do lugar se ajustar ao campo deles.

— Este é o útero do som — murmurou Clara. — Aqui, o verbo se formou antes de virar linguagem.

No centro da caverna havia um salão natural, com estalactites pendendo como instrumentos.
Eles se sentaram ali… e o silêncio era absoluto.
Mas não durou.

Miguel, sem entender por quê, começou a entoar um som grave. Clara o acompanhou, em um tom agudo. E então… a caverna respondeu.

Paredes vibraram.
As pedras brilharam em ondas.
Era como se a própria Terra cantasse com eles — uma orquestra primordial, despertada pela lembrança.

Um portal se abriu, não no chão ou no ar — mas no som em si.

Um campo de vibração começou a girar ao redor deles. E dele surgiram formas de luz: geometrias sonoras, flutuantes.

E então, um novo ser apareceu.

Diferente dos anteriores, este não tinha corpo definido. Era som. Sua presença os atravessava como um cântico.

— Eu sou o guardião do Verbo Esquecido — disse, vibrando. — O som que gerou os mundos… e que vocês carregam no DNA adormecido.

Ele os guiou até uma rocha que flutuava. Nela, uma pequena espiral dourada girava.

— Esta é a Nota Fonte. O som de origem.
Toquem-na com o coração… e lembrarão.

Miguel foi o primeiro. Ao encostar, seu corpo inteiro vibrou em tons que ele nunca ouvira. Ele viu a si mesmo como arquiteto de sons dimensionais em uma vida anterior.

Clara tocou. Um canto antigo ecoou de seu ventre, como se a Mãe do Som falasse através dela. Ela viu uma linhagem de mulheres que entoavam o mundo — e soube: ela era uma delas.

O ser vibrou mais forte.

— Agora, vocês estão afinados com a Quinta Frequência.
Com ela, podem despertar portais adormecidos nas almas humanas.
A palavra viva voltará à Terra por suas vozes.

Entregaram a eles uma harpa de cristal — que não precisava ser tocada com as mãos, mas com a intenção.

— Usem-na com sabedoria. Ela toca o que está pronto para despertar.

No fim, Clara escreveu no Livro Vivo:

“O som não vem da boca. Vem da alma em estado puro.”
“Agora, nossas palavras são sementes… e nossos silêncios, jardins.”

Ao deixarem a caverna, o ar parecia novo.

E Miguel, com os olhos fechados, disse:

— Clara… o sexto portal não está longe.
— Onde? — ela perguntou.
— Em nós.
Mas antes… precisamos voltar para onde tudo começou.

E assim, o sexto chamado surgia… com gosto de retorno.

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---Continua---