Capítulo 63

A Cidade Subterrânea de Shara’tam e os Jardins do Som Perfeito.

Debaixo dos véus terrenos, além das camadas visíveis da crosta terrestre e esquecida pelos mapas da superfície, repousava Shara’tam — uma cidade subterrânea esculpida nas entranhas vivas do planeta, onde a matéria vibrava em ressonância com a essência primordial do Som. Seu nome era sussurrado em outras eras como lenda, mas agora voltava a ecoar com a força dos antigos tambores estelares, despertando aqueles que ainda se lembravam da canção original do cosmos.

A entrada de Shara’tam se revelava apenas àqueles que tinham desbloqueado os códigos vibracionais através da ativação interna da escuta sagrada — não com os ouvidos do corpo, mas com os ouvidos da alma. Guiados pelos símbolos despertos nas torres tartarianas, Clara e Miguel foram conduzidos por um corredor de cristais sonoros, onde cada passo emitia notas cintilantes, e os ecos criavam harmônicos que pareciam abrir fendas na percepção.

Ao atravessarem o umbral da cidade, os dois viajantes se depararam com estruturas que se curvavam como flautas, pontes que vibravam como harpas, e cúpulas que pulsavam como tímpanos de cristal. Cada construção, cada pedra, cada flor — era um instrumento vivo afinado à Frequência da Criação.

Os Jardins do Som Perfeito

No coração da cidade, além dos corredores de quartzo azul e dos salões circulares entalhados com os glifos do tempo anterior, jaziam os Jardins do Som Perfeito — um campo vasto onde as plantas não apenas cresciam, mas cantavam. Seus caules ressoavam como cordas de um alaúde cósmico, suas flores liberavam tons que curavam feridas da alma, e o vento ali, ao invés de soprar, sussurrava canções antigas compostas por civilizações que já haviam transcendido a matéria.

Os Guardiões do Jardim — seres de luz transparente, com olhos como lagos cristalinos — explicaram que ali vibrava a Nota Escondida, o som que havia sido silenciado durante a Queda de Tartaria. Era esse som que mantinha o eixo harmônico do planeta alinhado ao Coração Galáctico. Mas quando Tartaria caiu, a nota desapareceu, e o mundo mergulhou em dissonância, separação e esquecimento.

Agora, ao redescobrirem o jardim e sua nota original, Clara, Miguel e os que os acompanhavam passaram por uma iniciação profunda: a escuta do silêncio entre os sons. Ali, entenderam que o tempo não era linear, mas um acorde, e que os destinos não se escreviam — se compunham.

A Ativação Harmônica

Diante da Fonte Sonora Central — uma flor gigante de cristal suspensa por campos de energia invisíveis — os viajantes posicionaram os símbolos ativados das torres tartarianas:
𓂀 ⧉ ✧ ∴ 🜂 ◯ 🜄 ∞

Cada símbolo girou no ar como notas vivas e se fundiu com as vibrações do jardim, reativando o Coração Harmônico da Terra. A cidade inteira começou a vibrar em uma tonalidade que os humanos esqueceram, mas as almas jamais deixaram de reconhecer.

E quando a última nota ecoou pelo subterrâneo cristalino de Shara’tam, o céu da superfície estremeceu com um brilho diferente: como se a Terra estivesse, aos poucos, voltando a cantar a canção da sua origem.

—

"Tudo que vibra é som, e tudo que é som pode curar. Shara’tam, em silêncio, devolve a música às almas."