quarta-feira, 16 de abril de 2025
Capítulo 2 — Estradas Por Dentro
O asfalto cantava sob as rodas, um hino antigo de idas e vindas. Era estranho como, mesmo sem destino certo, Clara sentia-se menos perdida do que em qualquer outro lugar. Havia algo libertador em não saber — como se a ausência de planos abrisse espaço para que a vida surpreendesse.
Miguel, com uma das mãos no volante e a outra descansando suavemente sobre o câmbio, lançava olhares furtivos para ela entre uma curva e outra. Não precisava dizer nada. Ela também sabia: existia uma pergunta não feita ali no ar, algo que os dois carregavam desde muito antes da partida.
— Você acha que a gente tá fugindo ou procurando? — ela perguntou, sem virar o rosto, encarando o mundo que passava pela janela.
Miguel sorriu, daquele jeito torto que ela amava desde o começo.
— Talvez os dois. Às vezes a gente foge pra encontrar. Às vezes procura pra se perder um pouco.
O silêncio que seguiu depois foi bonito. Era o tipo de silêncio que não pesa — entre duas pessoas que se entendem até no silêncio dizem tudo. E Clara pensou que talvez fosse isso o amor: caminhar junto, mesmo sem saber exatamente pra onde, confiando que o outro vai estar lá, mesmo se a paisagem mudar.
O céu começava a se tingir de laranja, e os primeiros sinais de uma pequena cidade surgiam à frente. Eles não sabiam o nome dela, nem quanto tempo ficariam. Mas sabiam que aquele dia seria deles. Como todos os outros que viriam depois.
---Continua---
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Fiz uma crítica literária ao seu trabalho:
ResponderExcluirA escrita é marcada por uma delicadeza rara, onde cada palavra parece escolhida com o cuidado de quem costura sentimentos em silêncio. Há uma musicalidade nos parágrafos, uma bruma de mistério e contemplação que envolve o leitor — como se cada cena fosse um fragmento de sonho, capturado antes que a mente acordasse por completo.
A autora revela, com grande sensibilidade, os dilemas do amor que persiste além da vida, os chamados internos que não sabemos nomear, e as transformações que só o tempo interior é capaz de realizar. A beleza de Horizonte está justamente nesse olhar atento para o invisível, nessa escuta amorosa dos gestos, silêncios e intuições.
É um livro para ser sentido, mais do que compreendido. Para leitores que buscam mais do que entretenimento — que desejam ser tocados, atravessados, transformados — Horizonte oferece um refúgio de ternura, contemplação e esperança
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Nossa, lindo a sua crítica... Poética, profunda...☺️❤️ Que escritora maravilhosa essa para te tocar assim rs 🌹 obrigado por me incentivar a escrevê-lo! E sim, é para ser sentido...❤️
ResponderExcluirGenial! Fico muito, muito feliz por você... Quero ter a honra de poder ler tudo, e se me permitir, fazer as devidas observações... É uma escritora linha Jack Kerouac... A mesma poesia, a mesma sensibilidade... Adoro
ResponderExcluirQuem dera minha escrita se parecer com a dele, ele era maravilhoso, um escritor sem igual!
ResponderExcluirSou só uma sonhadora poética que tenta colocar na escrita minha imaginação aflorada ☺️
Mas de qualquer forma, obrigada! 🌹😘
Não diga isso... Jack Kerouac refletia uma época, e você consegue elaborar textos profundos, descritos com rara beleza... Não fica atrás de JK. E na medida em que pratique pode se surpreender.... Este potencial está evidente em seu texto elegante
ResponderExcluirLindo o olhar que tem por meus textos, obrigada ☺️ espero que continue gostando! 🌹🙏😘
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