quarta-feira, 16 de abril de 2025

Capítulo 5 — Coisas que Não Sabemos Nomear

--- A tarde caiu como se fosse uma prece. O céu se pintava devagar, em tons de rosa e azul desbotado, e o cheiro de terra úmida anunciava que a noite traria chuva. Clara e Miguel voltaram da trilha em silêncio, mãos entrelaçadas, como se o calor da pele fosse o único abrigo de que precisassem. Na pousada simples onde haviam decidido passar a noite, tudo era silêncio, e uma linda lareira clareava o ambiente. Na recepção um rádio antigo tocava baixo, e as paredes pareciam guardar histórias contadas à meia-luz. Depois do banho quente, Clara ficou olhando pela janela. Os pingos começaram a tocar o vidro, um a um, até virarem uma canção constante. Miguel se aproximou por trás, passando os braços ao redor de sua cintura, repousando o queixo em seu ombro. — Às vezes me pergunto… — ela disse, sem tirar os olhos do mundo lá fora — se a gente está se encontrando ou se perdendo aos poucos. Miguel demorou a responder. Respirou fundo. Não porque estivesse com medo da resposta, mas porque entendia o peso da pergunta. — Acho que toda mudança confunde. A gente sai pra se descobrir, mas sempre carrega coisas do que era antes. E às vezes... elas pesam mais do que a gente esperava. Clara se virou, com os olhos marejados. Não era tristeza. Era aquele tipo de emoção que mora na borda do amor: vulnerável, verdadeiro. — Eu só não quero que essa viagem seja um esconderijo — ela confessou. — Quero que seja um caminho. Pra mim. Pra você. Pra nós. Miguel tocou o rosto dela com delicadeza. A chuva batia mais forte agora, como se o mundo do lado de fora estivesse tentando limpar o que doía por dentro. — Então vamos prometer uma coisa — ele disse. — Se algum dia a gente sentir que parou de crescer um com o outro, a gente para. Mas enquanto houver estrada, céu e silêncio entre nós… a gente continua. Clara fechou os olhos por um segundo, sentindo a força suave dessas palavras. E então sorriu. Porque amar, às vezes, é só isso: seguir mesmo com medo, e se permitir ser visto de verdade. ---Continua---

Nenhum comentário:

Postar um comentário