quarta-feira, 16 de abril de 2025
Capítulo 4 — As Coisas que o Silêncio Diz
A manhã chegou macia, com o canto de passarinhos costurando os primeiros raios de sol. Miguel já estava acordado quando Clara abriu os olhos. Ele observava o céu, como se estivesse tentando decifrar um segredo antigo escondido entre as nuvens.
— Dormiu bem? — ela perguntou, a voz ainda embargada de sono.
— Como se o mundo tivesse parado só pra gente descansar — respondeu, olhando pra ela agora, com aquele jeito que falava mais do que qualquer palavra.
Eles caminharam sem pressa até um mirante que os moradores haviam indicado no dia anterior. Era uma trilha curta, ladeada por árvores altas e folhas secas que estalavam sob os pés. Não conversaram muito. Às vezes, entre duas pessoas que se amam, o silêncio também é uma forma de diálogo — um lugar seguro onde se respira junto.
Quando chegaram ao topo, a vista se abriu como um suspiro longo: colinas suaves, campos verdes até onde os olhos alcançavam, e o céu refletido num lago lá embaixo. Clara se sentou na beirada de uma pedra, abraçando os joelhos. Miguel ficou de pé, quieto, como se estivesse em reverência.
— Sabe o que eu penso às vezes? — ela disse, olhando pro nada. — Que a gente passa a vida inteira correndo atrás de certezas… mas são as incertezas que fazem a gente se mover de verdade.
Miguel se abaixou ao lado dela, pegou sua mão com calma, como quem segura um segredo.
— Talvez seja isso que estamos fazendo. Dando espaço para que as incertezas virem caminho.
Ela encostou a cabeça em seu ombro e, por um momento, tudo pareceu fazer sentido. Não havia passado nem futuro — só aquele instante puro, inteiro, onde amar e estar ali se tornavam a mesma coisa.
Eles sabiam que em breve partiriam de novo, que haveria outras cidades, outras paisagens, talvez até algumas tempestades. Mas ali, naquele silêncio que dizia tudo, aprenderam mais sobre si mesmos do que qualquer mapa poderia ensinar.
---Continua...
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