quarta-feira, 16 de abril de 2025

Capítulo 3 — Onde o Tempo Desacelera

A cidade era pequena, quase desenhada à mão. Casas baixas com varandas floridas, ruas de paralelepípedo, e aquele cheiro doce de bolo e pão, saindo do forno que parecia vir de todos os cantos. Clara desceu, com os pés ainda meio dormentes da estrada, mas o coração leve. Miguel seguiu logo atrás, esticando os braços para o céu, como se agradecesse silenciosamente por mais um pedaço de mundo. — Vamos ficar aqui hoje? — ele perguntou, com aquele olhar que mais sugeria do que perguntava. Ela respondeu com um aceno preguiçoso e um sorriso no canto da boca. O tempo ali parecia andar mais devagar. Era o tipo de lugar onde as pessoas sorriem umas para as outras mesmo sem se conhecer, como se soubessem que todo mundo carrega uma história que merece gentileza. No café da esquina, uma senhora de cabelos brancos e olhos brilhantes os recebeu como se já os esperasse. Seu nome era Dona Luzia, e suas mãos tremiam levemente enquanto servia dois cafés fortes e um pedaço generoso de bolo de fubá. — Vocês têm olhos de quem veio de longe e coração de quem ainda tem muito pra viver — ela disse, sem cerimônia, sentando-se à mesa com eles. — O mundo inteiro cabe dentro de um carro quando se tem amor no banco da frente. Clara e Miguel se entreolharam. Era como se Dona Luzia tivesse lido seus pensamentos, ou como se soubesse o que eles ainda nem tinham conseguido colocar em palavras. Ficaram ali por horas, ouvindo histórias da cidade, de amores antigos e de despedidas que viraram recomeços. Naquela noite, estacionaram o carro ao lado de um campo aberto, sob um céu cravejado de estrelas. Deitaram abraçados, com a sensação rara de pertencer a um lugar que nem sabiam se existia, enquanto o vento dançava entre as árvores, Clara pensou que talvez o segredo da viagem não fosse chegar a algum destino… mas permitir que o mundo entrasse devagar, como quem não tem pressa de ser feliz. E assim, dormiram... ---Continua---

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