quinta-feira, 17 de abril de 2025
Capítulo 10 — A pedra azul e o Espelho...
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A vila foi ficando para trás no retrovisor, mas algo dela seguia com eles. Clara segurava a pedra azul com delicadeza, sentindo um leve pulsar sob os dedos, como se um pequeno coração batesse ali dentro. Desde que a receberam, ambos sentiam os sentidos mais despertos — como se os véus do mundo estivessem ficando mais finos.
— Você acha que ela era real? — Miguel perguntou, quebrando o silêncio da estrada.
— Não sei. Mas sinto que o que ela nos deu… é. A pedra. As palavras. O símbolo. Tudo parece ecoar em mim.
No fim da tarde, guiados mais pela intuição do que por mapas, chegaram a um campo dourado, onde o sol parecia tocar o chão. Uma placa de madeira indicava: Caminho das Três Fontes. Não havia trilha clara, apenas uma cerca antiga e o sussurro do vento.
Ao atravessarem o campo, a pedra azul começou a aquecer na mão de Clara. Quando passaram por uma árvore solitária, ela parou de repente.
— Aqui.
— Aqui o quê?
— Algo me diz que é aqui.
Miguel confiava nela de um jeito que nem sempre entendia — e isso bastava. Eles caminharam até a árvore e, atrás dela, encontraram um pequeno arco de pedras coberto por musgo, como a entrada de algo muito antigo.
— É uma construção? — ele sussurrou.
— Não… parece mais um portal.
Clara encostou a pedra azul no centro do arco. No mesmo instante, uma leve luz branca se acendeu em torno das pedras, como fios de energia revelando caminhos invisíveis. E então, à frente deles, surgiu… um espelho.
Não um espelho comum, mas uma superfície líquida que flutuava no ar, refletindo não apenas o agora — mas também fragmentos de tempos que não eram mais. Ali, Clara viu a si mesma com outra roupa, em outro tempo, correndo por aquele mesmo campo. Miguel estava lá também, mais jovem, com olhos igualmente reconhecíveis.
Ela estendeu a mão e tocou a superfície. Ao fazê-lo, uma onda de imagens a invadiu: cidades antigas, danças ao luar, mãos se soltando em meio a guerras, promessas sussurradas ao vento, reencontros em diferentes épocas.
Miguel a segurou quando ela vacilou.
— Eu vi tudo… — ela disse com lágrimas nos olhos. — Nós. Em tantos lugares. Em tantos finais. Mas sempre… voltando.
O espelho brilhou uma última vez antes de desaparecer. No chão, restava agora um novo símbolo gravado na terra: um triângulo com círculos em cada ponta.
— Um mapa? — Miguel perguntou.
Clara assentiu.
— Uma nova direção.
E então seguiram. Porque sabiam que o amor que carregavam vinha de muitos lugares — e que a estrada diante deles era mais do que geográfica. Era sagrada.
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---Continua---
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