quinta-feira, 17 de abril de 2025

Capítulo 12 — As Águas que Lembram

--- Capítulo 12 — As Águas que Lembram - O símbolo encontrado no templo os guiava agora a uma região úmida e densa de mata, onde riachos se entrelaçavam como veias na terra. Guiados por sussurros do caminho e mapas desenhados por intuição, chegaram a um vale escondido: Vale das Três Águas, onde as lendas locais diziam que os rios cantavam histórias para quem soubesse escutar. Ao entardecer, encontraram o segundo círculo: uma nascente rodeada por pedras brancas e árvores de folhas prateadas. No centro, um pequeno lago de águas tão límpidas que refletiam o céu mesmo em noite escura. — Aqui parece... limpo demais — sussurrou Miguel. — Como se nunca tivesse sido tocado. — Ou como se tudo que entra aqui fosse devolvido ao mundo purificado — completou Clara. A pedra azul começou a pulsar novamente. Clara, guiada por algo mais forte do que a lógica, tirou os sapatos e entrou nas águas. Miguel hesitou por um momento, mas logo a seguiu. Ao tocar a água, uma leve vibração percorreu seus corpos. E então, o tempo pareceu se desfazer. Ambos fecharam os olhos. Imagens começaram a surgir, não como sonhos, mas como lembranças puras. Clara viu uma vida antiga em que esperou por Miguel até o fim dos seus dias. Viu-se doente, sozinha, olhando para o mar. Miguel nunca voltara daquela vez. Miguel viu uma encarnação em que foi forçado a se afastar dela. Viu-se fugindo durante uma guerra, carregando culpa por não conseguir voltar. Sentiu a dor no peito como se fosse agora. As lágrimas vieram como uma chuva mansa. As águas do lago pareciam entender e acolher cada emoção, cada memória. — Me perdoa por todas as vezes que não voltei — Miguel sussurrou, mesmo sem saber se ela o ouvia. Clara, ainda de olhos fechados, sentiu as palavras ecoarem por dentro, como se atravessassem séculos. — Já está perdoado. Sempre esteve. Quando abriram os olhos, havia uma nova leveza no ar. Os corpos pareciam mais leves, os corações menos em silêncio. Na margem, sobre uma pedra seca, uma nova marca havia surgido: três linhas que formavam uma espiral aberta — como uma dança contínua. — Ainda falta um ponto — Clara disse, olhando o triângulo em seu diário. — A união. — O lugar onde tudo se encaixa — Miguel completou, segurando sua mão. Eles sabiam que o último ponto os levaria não apenas a um novo lugar no mundo, mas a um novo lugar dentro de si. ---Continua---

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