quinta-feira, 17 de abril de 2025

Capítulo 8 — As Marcas do Infinito

--- Eles partiram cedo, sem destino certo. A estrada parecia mais silenciosa naquele dia, como se o mundo estivesse ouvindo seus pensamentos. Os dois ainda sentiam a vibração dos sonhos da noite anterior — como se algo tivesse sido desbloqueado, uma memória antiga liberada pelo tempo. Enquanto cruzavam uma cidade pequena e quase esquecida no interior, Clara apontou para uma construção abandonada à beira da estrada. Era uma antiga igreja de pedra, coberta de trepadeiras. Algo naquela imagem chamou por ela. — Podemos parar aqui? — ela pediu suavemente. Miguel assentiu sem pensar. Eles desceram e caminharam até o interior do templo. O ar era frio e quieto. Havia bancos quebrados, vitrais desbotados e um cheiro de tempo. No altar, uma inscrição em latim parcialmente apagada chamava atenção. Clara se aproximou devagar, passando os dedos sobre as palavras como quem toca um nome querido. Por instinto, traduziu em voz baixa: — "Nos encontraremos em cada tempo, até que o tempo acabe." Miguel a olhou, atônito. — Como você sabia ler isso? Clara piscou, como se despertasse de um transe. — Eu… não sei. Mas senti. Era como se… a frase já estivesse em mim. Naquele instante, uma leve brisa atravessou a igreja, mesmo com as janelas fechadas. Ambos sentiram a pele arrepiar. E então, viram: no chão de pedra, bem no centro da dela, duas marcas entrelaçadas como uma espiral — símbolos antigos, quase apagados, mas ainda visíveis. — Isso é... um símbolo de eternidade — Miguel murmurou. — Como se fosse uma promessa de retorno. Clara se abaixou e tocou o desenho com a ponta dos dedos. Sentiu uma onda de calor subir pelo corpo, como se estivesse tocando um eco de si mesma. — Miguel... e se não for a primeira vez que encontramos esse lugar? — E se for sempre o mesmo ponto de encontro, em todas as vidas? Eles se olharam. E pela primeira vez, sentiram medo — não do amor, mas da intensidade dele. Do que significava estar ligado para além de uma vida, de um corpo, de um tempo. Clara sabia: havia muito mais por vir. Eles não estavam apenas viajando por paisagens. Estavam desenterrando memórias enterradas nas dobras do tempo. E algo — ou alguém — parecia querer que eles lembrassem. ---Continua---

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