quinta-feira, 17 de abril de 2025
Capítulo 11 — O Templo Silencioso
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Capítulo 11 — O Templo Silencioso -
O triângulo com os três círculos parecia se repetir em pequenos detalhes do caminho — entalhado em placas antigas, em bordados de panos pendurados em janelas, até mesmo no formato das pedras que margeavam a estrada de terra. Clara e Miguel seguiam essas pistas com o coração aberto, como se a lógica tivesse dado lugar à confiança.
Ao final de um dia nublado, chegaram ao pé de uma montanha. No alto, envolto em neblina, havia o que parecia ser uma estrutura de pedra — parte ruína, parte santuário. Os moradores da vila mais próxima a chamavam apenas de “O Silencioso”.
— Dizem que ninguém ouve vozes lá dentro — explicou uma senhora na mercearia. — Nem as próprias. Mas muitos saem de lá entendendo o que ainda não sabiam que precisavam saber.
Clara sentiu um arrepio. E soube: era o lugar certo.
A subida foi lenta. O silêncio crescia à medida que se aproximavam. Quando entraram no templo, algo inexplicável aconteceu — os sons desapareceram. O vento, os pássaros, até os próprios passos. Tudo ficou suspenso.
Miguel tocou os lábios, depois falou algo. Nada. O som havia sumido, como se o lugar pertencesse a outra frequência.
O templo era simples e circular. No centro, uma grande pedra escura com inscrições em espiral. Ao redor, desenhos antigos nas paredes mostravam casais se reencontrando em diferentes roupas, diferentes épocas… e sempre com o mesmo olhar.
Clara ajoelhou-se diante da pedra. A energia era densa e suave ao mesmo tempo. Ao encostar a mão nela, uma onda de calor percorreu seu corpo. Seus olhos se fecharam.
Ela viu-se criança, sozinha, olhando o céu e perguntando por que sentia falta de alguém que ainda não conhecia.
Viu-se jovem, escrevendo cartas para um amor que ainda não tinha nome.
Viu Miguel. Sempre ele. Em cada versão de si. Em cada esperança.
Quando abriu os olhos, estava chorando em silêncio. Miguel a segurava, com a mesma expressão de quem também havia tocado uma verdade.
Eles se olharam e, mesmo sem palavras, sabiam: estavam ali para lembrar. E também para curar. Não apenas a si mesmos — mas todas as versões que carregavam.
Na saída do templo, o som voltou aos poucos. O vento acariciava os galhos, os passos ecoavam. A realidade parecia acolhê-los de volta, transformados.
— Isso muda tudo — Miguel disse, finalmente.
Clara assentiu.
— Ou talvez… só esteja nos devolvendo o que sempre foi nosso.
---Continua--
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