Capítulo 14 — O Chamado das Outras Almas

--- Capítulo 14 — Depois da noite no Coração da Terra, tudo parecia diferente. Não só entre eles — mas ao redor deles. As folhas vibravam, os pássaros pareciam observar mais atentos, e as pessoas que encontravam na estrada… pareciam reconhecê-los. Ainda que nunca os tivessem visto. Numa manhã clara, enquanto tomavam café num vilarejo à beira do rio, uma mulher se aproximou da mesa. Seus olhos estavam marejados, mas não parecia triste. Ela apenas estendeu a mão e, em sua palma, havia um símbolo gravado à tinta — o mesmo triângulo. — Eu sonhei com vocês — disse com voz firme. — E sonhei com um lugar que preciso encontrar. Vocês podem me ajudar? Clara e Miguel se entreolharam. — Como você encontrou a gente? — Miguel perguntou. — Eu não encontrei. Fui trazida. Clara sentiu o arrepio já familiar. O chamado havia começado. Aquilo que a Senhora das Horas havia sussurrado — "vocês têm uma missão juntos" — agora fazia sentido. Durante os dias seguintes, mais pessoas começaram a cruzar seus caminhos. Algumas com sonhos. Outras com símbolos. Outras apenas com um vazio estranho no peito, como se estivessem buscando algo sem saber o quê. Clara compreendeu que ela e Miguel não eram os únicos a carregar memórias de outras vidas. Mas talvez fossem os primeiros, naquele momento, a lembrar de forma tão completa. — E se a nossa missão for essa? — ela disse certa noite, enquanto caminhavam de mãos dadas. — Ajudar as outras almas a se reencontrarem também? Miguel sorriu. — Talvez sejamos faróis. Talvez sejamos pontes. Mas uma coisa é certa… não estamos mais apenas viajando. Eles começaram a desenhar novos mapas. Não de estradas, mas de caminhos de alma. Locais que vibravam mais forte, onde pessoas despertavam com mais facilidade, onde o tempo também desacelerava. E assim nasceu algo novo: encontros guiados, rodas de escuta, noites de silêncio ao redor de fogueiras. Em cada parada, deixavam sementes. E, sem perceberem, estavam criando uma nova rota para outros caminhantes. Um caminho de reconexão. Um caminho de amor desperto. Um caminho onde o tempo, de novo, não importava — porque o que era verdadeiro… já existia antes de qualquer relógio. ---Continua---