quinta-feira, 17 de abril de 2025

Capítulo 9 — A Senhora das Horas

--- Capítulo 9 — A Senhora das Horas - Dois dias depois da visita à igreja abandonada, Clara e Miguel chegaram a uma vila escondida entre montanhas. O lugar parecia ter parado no tempo. Ruas de pedra, lampiões de ferro, portas coloridas com fechaduras antigas. Tudo ali carregava um ar de memória — como se o presente fosse apenas um disfarce para o passado. Enquanto caminhavam pela feirinha local, uma mulher idosa os observava de longe, sentada atrás de uma banca de livros e pedras. Seu cabelo era branco como neve, preso em um coque frouxo, e seus olhos... seus olhos eram azuis e pareciam conter séculos. Quando Clara passou por ela, sentiu algo puxá-la. Um chamado silencioso, inexplicável. A mulher sorriu. — Vocês demoraram, mas chegaram. De novo. Clara parou. Miguel virou-se lentamente, sentindo o ar mudar ao redor deles. — A senhora nos conhece? — ele perguntou, cauteloso. Ela assentiu, abrindo um dos livros sobre a mesa. Dentro, havia desenhos — traços delicados de rostos, símbolos, constelações. E no centro de uma página amarelada... o mesmo símbolo de espirais entrelaçadas que encontraram na igreja. — Vocês já vieram aqui em outro tempo. Ele tinha outro nome. Você, Clara, vestia azul escuro, e Miguel usava um medalhão com esse mesmo símbolo. Foi há muitas voltas do sol… mas vocês prometeram voltar. Sempre voltam. Clara sentiu o coração acelerar. — Quem é a senhora? — Chamam-me de muitas formas, mas aqui, sou conhecida como a Senhora das Horas. Guardo os fios do tempo que ainda não foram esquecidos. Miguel se aproximou do livro, tocando a página. — Por que estamos lembrando disso agora? — Porque escolheram, nesta vida, despertar. Nem todos têm coragem de encarar o que vem com o amor antigo: os espelhos, os testes… e a missão que carregam juntos. Clara e Miguel se entreolharam. A conexão entre eles parecia mais nítida do que nunca, como se tudo o que viveram até ali fosse apenas o prólogo de algo muito maior. A senhora então entregou a Clara uma pequena pedra azul, lisa e quente como um coração em paz. — Guardem isso. Quando as perguntas forem maiores que as respostas, ela os levará à próxima lembrança. E sem dizer mais nada, voltou a seus livros, como se nunca tivesse falado. ---Continua---

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